sábado, 8 de setembro de 2007

06.02 - PEQUENO DICIONÁRIO DE TERMOS RELATIVOS AO CARNAVAL

Abecedário – Entrelaçar de pernas que o mestre-sala faz enquanto reverencia a porta-bandeira, figurando letras como, M, N, S e X.

Abre-alas – 1 – Carro alegórico simbolizando a escola de samba, surgindo no desfile logo depois da Comissão-de-Frente, informando o tema do samba-enredo. Raramente o Abre-Alas se apresenta sem alegoria montada em carro. Na década de 20, os clubes de préstitos apresentavam carros abre-alas. 2 – Ó Abre-Alas – Primeira canção do carnaval carioca, composta em 1899 pela maestrina Chiquinha Gonzaga a pedido do Cordão Rosa de Ouro.

Agogô – Instrumento de percussão, componente de uma orquestra de maracatu e da bateria de escola de samba. De origem africana, é constituído por duas campânulas, um com som diverso do outro e produzido pela pancada de uma vareta. Algumas baterias apresentam agogôs com mais de duas campânulas, inovação dirigida ao efeito visual antes de qualquer outro sentido no conjunto da bateria. No grupo de instrumentistas de uma bateria, os agogôs ocupam a oitava fila dos instrumentos.

Ala – Grupo organizado de passistas ou pastoras, uniformemente fantasiado, obedecendo a a uma coreografia, improvisada ou não, conforme o enredo que a agremiação carnavalesca apresenta no desfile. Dentro do sistema administrativo das escolas de samba, a Bateria e os Compositores formam grupos autônomos chamados de “alas técnicas”.

Ala dos compositores – Grupo de compositores responsável pela criação musical da escola de samba. Geralmente os compositores recebem um resumo do enredo para desenvolvê-lo através da letra do samba a ser preparada para o desfile. Algumas escolas transformam sua ala dos compositores em departamento musical.

Alegorias – Carros artisticamente preparados para o desfile de agremiações no carnaval. Neles figuras ou motivos de bom efeito visual fazem alusão ao enredo. Geralmente, os carros alegóricos são empurrados por homens de boa apresentação física, contratados para esse fim e não pertencentes ao clube ou escola de samba. “No regime de competição, as escolas foram abdicando de seus próprios valores e, de repente, quase sem perceber, foram fazendo uma depuração em seu próprio meio. Em vez de Mestre Julinho, um artesão que fazia alegorias com gesso e pasta de papel, criando figuras compatíveis com seu nível intelectual, as escolas passaram a mobilizar cenógrafos diplomados pela Escola Nacional de Belas Artes, cujo refinamento estético já não corresponde à comunidade que a eles faz encomenda” (de uma reportagem de Maurício Azedo sobre o carnaval do Rio de Janeiro, publicada na revista Movimento de 30.1.78).

Alegorias de mão – Alegorias de tamanho pequeno, montadas, em haste de madeira ou metal leve, para serem empunhadas pelos integrantes de determinada ala de clube carnavalesco ou escola de samba, ilustrativas do enredo.

Apitador – Regente de bateria de escola de samba que usa o apito para orientar os instrumentistas do conjunto. Com o advento do carnaval regulamentado, o apitador passou a chamar-se mestre de bateria.

Apoteose – Repetição, na terça-feira de carnaval, do desfile das escolas de samba de São Paulo. Não há contagem de pontos para efeito de classificação nesse retorno à passarela das escolas, valendo apenas o ânimo carnavalesco. No carnaval de 1984 cada escola de samba do I Grupo no Rio de Janeiro terminou seu desfile com uma apoteose, concentrando todo o seu conjunto na praça final do Sambódromo.

Arlequim – Fantasia de imitação ao traje de um personagem da peça teatral italiana Commedia dell´art. Figura carnavalesca rival de Pierrô nos amores de Colombina.

Bacalhau do Batata – Troça do carnaval de Olinda-PE que se exibe na quarta-feira de Cinzas, desde 1965. É composta de motoristas, garçons, enfermeiros e vigilantes que, durante o carnaval, estiveram trabalhando. Seu estandarte-símbolo, sempre improvisado, é constituído de um bacalhau cercado de cebolas, pimentões, tomates, coco seco, uma lata de óleo comestível e uma garrafa de pinga.

Bafo de Onça – Famoso bloco de empolgação do Rio de Janeiro, fundado em 12 de dezembro de 1953. Participam do seu desfile, em média, cinco mil figurantes, na grande maioria com fantasias de tecido cuja padronagem lembra pele de onça.

Baianas – 1. Mulheres vindas da Bahia para o Rio de Janeiro nas últimas décadas do século passado, mais conhecidas como tias porque reuniam, fraternalmente em suas casas, sambistas e boêmios para noitadas de música popular, um dos fatores da evolução do carnaval carioca. A sua popularidade é devida à indumentária, sugerindo fantasias para as festas carnavalescas, a exemplo da Ala das Baianas das Escolas de Samba, destaque irreversível seja qual for o enredo apresentado, desde 1953, quando a presença dessa ala no desfile foi tornada obrigatória. “Durante o carnaval, a cidade de Santos sempre manteve a sua tradição em matéria de samba, pois, desde meados da década de 1920, os cordões de baianas saíam às ruas empolgando o público com seus requebros e sapateados. (J. Muniz Jr. – Bo Batuque à Escola de Samba). 2. Componentes de um cortejo de maracatu.

Baliza – Destaque no desfile de uma agremiação carnavalesca (às vezes confundido com o mestre-sala), pouco a pouco desaparecendo com a hegemonia da Comissão de Frente. No prestígio apresentavam balizas fazendo malabarismo com um bastão de madeira, por isso também chamados de balizas de pau, e desfilavam com uma indumentária característica, não muito diferenciada de uma agremiação para outra: blusa, calção amarrado acima dos joelhos, capa, chapéu à Luís XV ou gorro. Circunstancialmente, o baliza poderia ser figurado por uma mulher jovem e de físico atraente.

Batalha de confete – Brincadeira entre foliões nos bailes de carnaval, consistindo na impulsão de confetes que estabelece momentânea e divertida guerra de papel picado. Na época do corso e do grande prestígio do carnaval de rua, “o chão ficava um tapete de quinze centímetros de papel colorido e picado”, como diziam os jornais. A primeira batalha de confete foi realizada na praia de Botafogo, no Rio de Janeiro, no carnaval de 1907, por iniciativa do jornal A Gazeta de Notícias.

Bateria – Grupos de instrumentos de percussão responsável pelo ritmo da escola de samba em desfile. A semelhança de uma orquestra há momentos em que todos os instrumentos tocam, em outros instantes apenas um setor fica em ação. Instrumentos básicos de uma bateria: surdo de marcação, surdo de repicar, surdo centralizador, caixa de guerra, tarol, tamborim, pandeiro, cuíca, frigideira, agogô, chocalho e reco-reco. Outros instrumentos não fundamentais, nem sempre utilizados na bateria: pratos de banda de música e tímbalos. “Na verdade, as baterias são a grande atração de que as Escolas dispõem; o seu poder de comunicabilidade nos desfiles, realmente é extraordinário, pois contagia o grande público” (Amaury Jório/Hiram Araújo – Escolas de Samba em Desfile). No carnaval carioca de 1930, “o mestre de fanfarra dos Fenianos, introduzindo uma bateria no desfile de um grande clube, agiu como um precursor da nova modalidade que a partir do ano seguinte iria pouco a pouco tomando conta do carnaval carioca, tornando-se, com o tempo, a sua maior e até única atração” (Marília T. Barbosa da Silva / Lygia Santos – Paulo da Portela). No dia 14 de fevereiro de 1963, no Maracanãzinho, Rio de Janeiro, realizou-se o I Torneio de Baterias do Rio de Janeiro, dele participando as Escolas de Samba Acadêmicos do Salgueiro, Flor do Lins, Unidos do Morro Azul, Aprendizes de Lucas, Império Serrano, Império da Tijuca, União de Jacarepaguá, União do Centenário, União do Cabuçu e Mocidade Independente de Padre Miguel. A comissão julgadora foi composta por Pixinguinha, Donga, Osvaldo Sargenteli e Lúcio Rangel. Venceram o torneio as baterias das Escolas Acadêmicos do Salgueiro e Flor do Lins.

Batucada – 1. Grupo de três ou quatro ritmistas batucando com seus instrumentos de percussão, às vezes de confecção artesanal. Os blocos e troças de menor expressão geralmente saem às ruas, nos dias de carnaval, com uma batucada para animação dos seus componentes e dos adesistas durante a passeata. 2. Estilo de música com ritmo bem marcado, originário do batuque angolês. Duas batucadas de muito sucesso popular no carnaval: General da Banda, de Sátiro Melo, José Alcides e Tancredo Silva, lançada em 1949; e Nega do Cabelo Duro, de Rubens Soares e David Nasser, gravada pelos Anjos do Inferno em 1942.

Batuque – Barulho rítmico com batidas fortes de instrumentos de percussão. “O samba era apenas o simples batuque dos negros, muitos deles idos de Angola que cultivavam as suas tradições africanas” (da reportagem O samba foi de Angola para o Brasil, publicada no Diário de Luanda de 9.2.70).

Batuqueiro – Ritmista integrante de uma bateria de escola de samba. “Na década de 1920 (...) devido à falta de recursos, eram os próprios batuqueiros que fabricavam seus instrumentos, como os surdos de barricas, cuícas de barriletes, além dos tamborins e pandeiros retangulares, com a pele estirada e pregada com tachinhas” (J. Muniz Jr. – Do Batuque à Escola de Samba). Também chamado de batuqueiro o componente de uma orquestra de maracatu.

Bisnaga – Tubo cilíndrico de material plástico, de tamanho variado e cores acentuadas, que as crianças enchem de água para molhar pessoas nos dias de carnaval. Um meio termo entre a seringa do entrudo e o lança-perfume.

Bloco – Pessoas que se juntam em grupo homogêneo para exibição nas ruas durante o carnaval, animadas por uma orquestra marcando o ritmo ou acompanhando o canto. Os blocos se organizam conforme as influências recebidas da área geográfica de suas apresentações. Há três tipos de bloco: de enredo ou desfile; de embalo ou de rua e de sujos. Os blocos cariocas assimilaram os elementos dos ranchos como estrutura de seus desfiles. Em São Paulo, o modelo para o cortejo é assemelhado ao do cordão, o mesmo acontecendo com os blocos baianos que resumem influência dos antigos cordões. No Recife, os blocos espelham a formação dos ranchos do Rio de Janeiro, desfilando com ricas fantasias e boa orquestra. Os blocos recifenses, tradicionais no agrupamento de famílias não interessadas no reboliço do frevo, desfilam com uma orquestra de 15 a 20 músicos, constituída quase sempre de violões, banjos, cavaquinhos, pandeiros, tarol, surdo, reco-reco, clarineta e flauta. Têm música própria: o frevo-de-bloco.

Bloco de enredo – Bloco bem organizado, com muitos participantes e apresentando um tema para dramatização do seu desfile, assemelhando-se em estilo e luxo às grandes escolas de samba. No carnaval do Rio de Janeiro, desfila um expressivo número de blocos de enredo, destacando-se: Flor da Mina de Andaraí, Canários das Laranjeiras, Unidos da Vila Kennedy e Mocidade Independente de Inhaúma.

Bloco de rua – Também chamado bloco de embalo, pela animação que provoca, é um agrupamento de foliões necessariamente semi-organizados, com fantasias variadas e vistosas e orquestra própria.

Bloco de sujos – Grupo ocasional de animados foliões, propositadamente desorganizados, fazendo carnaval de rua na base do improviso, sem fantasias ou com disfarces disparatados, fazendo-se animar por uma excêntrica batucada constituída de latas vazias, caixas, panelas velhas e outros utensílios que possam provocar ruídos dissonantes. “Eram os blocos de sujos, cada bairro tinha o seu. Tudo era improvisado, espontâneo. O bloco saía do boteco com cem pessoas e depois de alguns quarteirões já tinha mais de quinhentas” (declaração do compositor Ismael Silva, em entrevista publicada na revista Veja de 11.2.70).

Caixa carioca – A caixa de guerra mas sem os bordões, integrante da bateria de escola de samba, atualmente quase substituída pelo repinique.

Caixa de guerra – Tambor de tamanho médio, igual aos que são usados nos regimentos de infantaria das corporações militares. Na ordem de colocação dos instrumentos de uma bateria de escola de samba, as caixas de guerra ficam logo depois de um grupo de taróis. No Maracatu, a caixa de guerra tem apenas quatro bordões para que a sonoridade não se confunda com a do tarol comum.

Carnaval – Sinônimo de enredo na linguagem interna das escolas de samba.

Carnavalesco – Diretor de rancho, escola de samba ou de clube de préstitos responsável pela elaboração, montagem e execução dos enredos. Com o crescimento dos grêmios carnavalescos que participam de desfiles, a função do carnavalesco passou a ser exercida por artistas, arquitetos e show-business. “Tudo isso começou com o calor da disputa, pois na ânsia de obter novas vitórias, os dirigentes das escolas deixaram de recorrer aos seus carnavalescos, indo contratar gente de fora...” (J. Muniz Jr. – Do Batuque à Escola de Samba).

Carregador – Pessoa encarregada de empurrar carros de alegorias de uma escola de samba em desfile.

Carreta – Carro alegórico.

Carro alegórico – Alegoria montada em viatura para desfile no carnaval. Pela beleza das mulheres e audácia na armação de figuras gigantes em arame, papelão e material plástico, os carros alegóricos constituem um capítulo isolado dos desfiles de agremiações dedicadas ao carnaval. Com o desaparecimento ou decadência dos clubes de préstitos, as escolas de samba passaram a exibir alegorias como informação complementar do seu enredo. No carnaval paulistano de 1850, a Sociedade Paulicéia Vagabunda desfilou com vários carros alegóricos, provocando críticas desfavoráveis porque apresentou mulheres em cenas de bacanal.

Catitões – Enormes bonecos que retratam e ironizam pessoas e coisas na saída do Zé Pereira do carnaval da cidade mineira de Mariana. “O Zé Pereira da Chácara com os seus catitões tradicionais, guardados de ano para ano” (nota publicada no Informe Turístico CMP, de fevereiro de 1979).

Cavaquinho – De origem portuguesa, instrumento de cordas que geralmente acompanha o puxador de samba no desfile das escolas de samba, e faz parte das orquestras de ranchos. No começo de sua organização, as escolas de samba saíam com orquestras de instrumentos leves: violões, cavaquinhos, pandeiros, ganzá e tamborins.

Caverna – Nome dado à sede social do clube de alegorias Tenentes do Diabo, do Rio de Janeiro.

Chiquinha Gonzaga – Nome verdadeiro: Francisca Hedwiges de Lima Neves Gonzaga. Carioca. Compositora e considerada o maior vulto feminino da história da Música Popular Brasileira. Autora da famosa marcha-rancho Ó abre alas, a primeira música de real sucesso do carnaval carioca, composta por encomenda do Cordão Rosa de Ouro, em 1899. Como compositora de música de carnaval reaparece em 1912, com outra marcha-rancho Carnavalesco tendo na parceria Luís Peixoto e Kalisto. Geysa Boscoli registra: Chiquinha Gonzaga produziu mais de 1.500 músicas, inclusive marchas para o carnaval. A Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, no carnaval carioca de 1985, fez de Chiquinha Gonzaga tema do seu enredo.

Chocalho – Instrumento de percussão assemelhado a uma cabaça com pedras dentro, que acionado acompanha o ritmo da bateria de uma escola de samba.

Cidadão Momo – Figura de folião do carnaval carioca, criada em 1935 pelo Cordão dos Laranjas para contestar o prestígio popular do Rei Momo. O primeiro Cidadão Momo foi o cantor Sílvio Caldas. “... o Cidadão Momo viajou de trem de Madureira para a Estação de Pedro II, onde foi recebido festivamente...” (Sérgio Cabral – As Escolas de Samba). Eleito em 1936, o compositor Paulo da Portela foi o segundo Cidadão Momo, divulgando a seguinte proclamação: “Eu, Cidadão Momo de 1936, eleito pelos foliões desta cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, de acordo com os poderes que me foram conferidos para governar durante o tríduo da folia, considerando que o nosso regime republicano não se coaduna com um reinado, nem mesmo carnavalesco, considerando que o samba nasceu no morro e rei não freqüenta morro, considerando que a Monarquia, pelas próprias extravagâncias do rei, por mais popular que seja, não pode encarnar o samba, a verdadeira alma do carnaval, resolvo destronar o réu que terá a cidade como ménage, ficando sem efeito todo e qualquer decreto lavrado pelo monarca, a estas horas reduzido à expressão mais simples”.

Clóvis (corrutela de clown) – Fantasia assemelhada à indumentária do palhaço, muito usada nos carnavais de rua do começo do século, atualmente vestida por foliões conservadores. “... comerciantes e moradores se cotizaram para fazer um carnaval alegre com muitos Clóvis...” (de um noticiário do Jornal do Brasil de 16.2.83).

Colombina – Fantasia que lembra determinado personagem da comédia italiana, amante de Pierrô e de Arlequim.

Comissão de carnaval – Grupo de foliões encarregado de planejar e administrar a apresentação de um grêmio carnavalesco. “O trabalho da Comissão de Carnaval consiste em pensar, a partir do enredo, um tratamento cênico do tema, modular a Escola segundo o desenvolvimento da seqüência narrativa, distribuir os papéis (figurinos) segundo as características apropriadas a cada ala, contratar figurinistas e alegoristas, providenciar a compra de todos os materiais necessários, promover a distribuição e fiscalizar a aplicação das subvenções às alas” (Maria Júlia Goldwasser – O Palácio do Samba).

Comissão de frente – Grupo de dez a quinze sambistas, conforme a praxe não fantasiados, mas vestidos com apurada elegância e simbolicamente representativos da diretoria e das tradições de sua escola de samba em desfile. Antigamente, os préstitos de maior efeito e organizados pelas sociedades carnavalescas tinham Comissão de Frente e o traje era completo, incluindo bengala e chapéu coco. O pesquisador José Ramos Tinhorão explica a posição da Comissão de Frente como atrativo de um desfile: “ Como a maior parte dos integrantes nas nascentes escolas de samba era constituída, de fato, por pequenos profissionais e artesãos sem emprego fixo (sapateiros, marceneiros, ilustradores, operários de obras, carregadores do pesado) e pela massa flutuante de mão-de-obra não especializada, muito rica em desocupados (biscateiros, malandros, jogadores, exploradores de mulheres, etc.), o objetivo inicial das escolas de samba era conferir um certo status aos seus componentes, o que levava grande parte deles pormenor muito significativo – a desfilar de terno” (Pequena história da Música Popular). A Comissão de Frente não se apresenta sambando, mas com estudados passos de saudação. “Ultimamente, esta rigidez da apresentação da Comissão de Frente vem sendo rompida pela modernização das Escolas de Samba, a exemplo da Salgueiro, em 1965, que desfilou com burrinhas na Comissão de Frente, sendo campeã nesse ano; a Mangueira que em 1967 colocou uma comissão de mulheres fantasiadas de fada, e a Imperatriz Leopoldinense, em 1969, com lindíssimas africanas estilizadas” (Amaury Jório / Hiram Araújo – Escolas de Samba em Desfile). Em 1984, no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, a Império do Maringá apresentou sua Comissão de Frente formada por 12 sereias.

Comissão de harmonia – Grupo de dirigentes de uma escola de samba responsável pela reunião de alas e de passistas para ensaios de samba-enredo.

Compositor – Sambista responsável pela preparação do samba-enredo de sua escola. Seus conhecimentos musicais pouco desenvolvidos impõe uma composição quase intuitiva e, geralmente, do agrado geral do povo que assiste os desfiles de escolas de samba.

Concentração – Agrupamento de figurantes e diretores de escola de samba, antes de sua participação no desfile, em local designado pelas autoridades promotoras do carnaval.

Confete – Rodelinhas de papel, de cores variadas, que se jogam aos punhados entre foliões nos bailes carnavalescos. Nos antigos carnavais serviam para animar batalhas simuladas, algumas delas como motivo de crítica a figuras ou costumes da época. De origem controvertida, uns dizem ser italiana a procedência, outros atestam ter vindo da França, e o escritor Morales de Los Rios diz ter sido na Espanha a sua criação. O confete surgiu no carnaval brasileiro no mesmo ano do aparecimento da serpentina: 1892. O confete dourado ou prateado apareceu em 1896. No carnaval de 1970, na cidade paulista de Bauru, desfilou pelas ruas um canhão lançador de confete, aparelho inventado na mesma cidade. No carnaval de 1971 surgiu o confete (bolinhas) de isopor, logo condenado pelos fiscais da Saúde Pública diante do mal que poderia causar. Antes da evidência das rodelinhas de papel, usava-se papel picado.

Cordão – 1. Grupo de foliões fantasiados, quase sempre congregando famílias amigas, para animação do carnaval de rua. Os cordões mais organizados desfilam com estandarte e música própria. Brincadeira carnavalesca em decadência. 2. Integrante de um clube de frevo, com fantasia igual, conduzindo, cada elemento, o símbolo do clube: um machado (Lenhadores), uma pá (Pás Douradas), uma vassoura (Vassourinhas), etc.

Coreto – Palanque carnavalescamente decorado para acomodar orquestras que animam os foliões do bairro onde foi armado. No Rio de Janeiro, de modo geral, cada subúrbio arma o seu coreto no carnaval. “Embora só 15 coretos tenham sido armados este ano em toda a Zona Sul, o carnaval de rua foi muito animado nos bairros da região” (de uma reportagem do jornal O Globo de 20.2.85).

Corso – Cortejo de carros em itinerário antes estabelecido, de grande animação nos carnavais de rua até a década de 30. Automóveis (de capotas arriadas) e pequenos caminhões conduziam famílias ou grupos de foliões geralmente fantasiados. O primeiro corso do carnaval carioca (1907) foi puxado pelo carro presidencial, conduzindo as filhas do Presidente Afonso Pena. “Com o advento dos corsos, o carnaval do Brás (São Paulo) tornou-se uma coisa monumental. Os veículos (automóveis e carruagens a tração animal) desfilavam por quilômetros e quilômetros...” (Jacob Penteado – Belenzinho 1910). No carnaval do Rio de Janeiro do ano de 1908, o cinegrafista Marc Ferrez produziu um documentário sobre O Corso em Botafogo.

Corta-jaca – Variante do samba de partido alto, executada durante um miudinho (outro estilo do partido alto), em que há súbitas paradas e a perna direita do sambista descreve um semicírculo, sem que o ritmo seja alterado.

Couros pesados – Instrumentos de maior evidência numa bateria de escola de samba: surdo de marcação, surdo de repicar, surdo centralizador, caixa de guerra e tarol.

Cuíca – 1. Instrumento de percussão constituído de um cilindro metálico, vestido de um lado por uma pele, prendendo-se ao centro, na parte inferior, uma vareta que, atritada com a mão, produz um som rouco. A cuíca começou a popularizar-se a partir de 1915, quando apareceu nos cordões carnavalescos, criando conceito maior ao ser introduzida na bateria da escola de samba, onde ocupa a segunda fila na ordem de colocação dos instrumentos. 2. Num processo de metonímia, o mesmo que cuiqueiro. “Ele é um cuíca de primeiro ordem” (Wilson Rodrigues de Moraes – Escolas de Samba de São Paulo).

Deboche - Sinônimo de carnaval na última década do século passado.

Deixa Falar – A primeira escola de samba do Rio de Janeiro, fundada no subúrbio do Estácio de Sá, em 12 de agosto de 1928, pro Heitor dos Prazeres, Ismael Silva, Alcebíades Barcelos, Nilton Bastos, Sílvio Fernandes (o famoso e temido desordeiro conhecido como Brancura) e Benedito Lacerda. Adotou as cores vermelha e branca, em homenagem ao América Futebol Clube, para o qual torcia grande parte dos sambistas do Estácio. “O nome Deixa Falar é pacificamente explicado pelos criadores da primeira escola de samba: sua intenção era responder com superioridade aos demais bairros, que sempre passavam por suas diferenças e se uniam contra o Estácio, apenas porque este se intitulava, orgulhosamente, de Rei do Samba” (José Ramos Tinhorão, citado por J. Muniz Jr. em Do Batuque à Escola de Samba).

Desfile – Passeata de grêmios carnavalescos sob regime de organização oficial, revestida de pompa e empolgação popular, sobretudo no tocante às escolas de samba, com a teatralização de motivos da História, da Literatura ou do Folclore nacionais, ou de homenagem a vultos diretamente ligados ao carnaval. A escola de samba desfila conforme o tema escolhido para o enredo, com suas alas, alegorias, destaques e grupos de sambistas e pastoras obedecendo a uma disposição representativa. Atualmente, clubes de frevo, blocos e troças já introduzem enredo nas suas apresentações. Durante o desfile, cabe a um determinado grupo de juízes apreciar vários aspectos da exibição de cada grêmio e atribuir pontos, segundo uma escala de avaliação (geralmente de zero a dez). A soma dos pontos atribuídos a cada agremiação configura o quadro de classificação, sagrando-se campeão o grêmio que reunir maior número de pontos. No que se refere às escolas de samba, quase sempre são dez os quesitos submetidos a julgamento: alegoria, letra do samba-enredo, fantasias, evolução, exibição de porta-bandeira e do mestre-sala, melodia, harmonia, bateria, comissão de frente e enredo. No Rio de Janeiro, o primeiro desfile de escolas de samba, de iniciativa delas próprias, foi no carnaval de 1930, na Praça Onze. Em 1932, o jornal Mundo Esportivo patrocinou outro desfile e a oficialização do certame aconteceu no ano de 1935.

Destaque – Figura isolada, viva (homem ou mulher), fantasiada com luxo e bom gosto, representando um personagem de importância no enredo desenvolvido pela escola de samba. A função do destaque é compor o enredo, mitificando um personagem, desfilando de modo a ser notado. Passeia na passarela e nem sempre executa passos de samba. A escola pode apresentar mais de um destaque no desfile e, de 1974 em diante, coloca-o também em carros alegóricos. Os clubes de frevo do carnaval pernambucano costumam apresentar destaques nos seus desfiles.

Deus Momo – O mesmo que Rei Momo. “Porque o meu entusiasmo pelo Deus Momo se misturava a um temor pronunciado pelos mascarados” (Mário Sette – Maxambombas e Maracatus).

Diretor de Bateria – Sambista encarregado de dirigir os instrumentistas de uma escola de samba. Com um apito ele avisa a entrada dos instrumentos, ou suspende a participação de alguns de determinado setor da bateria, ou ainda adverte para que a tonalidade seja aumentada ou diminuída. Mestre André, por muitos anos diretor da bateria da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel no Rio de Janeiro, usava um bastão para os sinais do seu comando. No carnaval carioca de 1964, Haroldo de Santa Cruz, diretor de bateria da Escola de Samba Em Cima da Hora, utiliza-se de uma lanterna de pilha e cada mudança de cor valia um sinal, previamente convencionado, para entrada ou parada dos instrumentos.

Diretor de Harmonia – Componente de escola de samba responsável pela coreografia e evolução dos passistas e pastoras no desfile e pela homogeneidade entre canto, ritmo e dança. A ele cabe dirigir os ensaios das diversas alas da escola para o desfile no carnaval.

Dominó – Fantasia de tecido leve, costurada com quadriláteros variados nas cores, lembrando o jogo composto de 28 peças. No carnaval do passado havia centenas de dominós nas ruas e nos bailes. “E jamais esqueci o dia feliz em que, meninote, saí pelas ruas da minha cidade natal encamisolado num dominó encarnado e preto” (Edigar de Alencar – O carnaval carioca através da música).

Enredo – Tema sobre um fato ou figura da História do Brasil, lenda folclórica ou vulto de expressão carnavalesca apresentado de forma artística e competitivamente luxuosa, com os participantes das agremiações que desfilam no carnaval exercendo o papel de personagens ou símbolos do assunto enfocado. Nas escolas de samba o enredo é fundamental. A idéia surgiu de um apelo do escritor Coelho Neto, em 1923, para que os ranchos cariocas apresentassem, como enredo dos seus desfiles, assuntos ligados à vida nacional. “No todo da Escola, o enredo é um pretexto, em cima do qual se organiza um dos mais belos e maravilhosos espetáculos visuais e plásticos” (Amaury Jório / Hiram Araújo – Escolas de Samba em Desfile).

Entrudo – Brincadeira popular, de origem remota e trazida ao Brasil por navegantes chegados dos Açores, praticada sob o consenso da liberdade plena de molhar pessoas nas ruas, também no interior das casas, com água conduzida em bacias, baldes e tigelas, besuntando-as em seguida com farinha de trigo ou alvaiade. Como diz o escritor Povina Cavalcanti em suas memórias, “destelhavam-se casas para surpreender as pessoas de entrudá-las”. Nem sempre folgazão, o entrudo estabeleceu atritos e inimizades não raro precisando a polícia intervir para conter excessos e até violências. No último dia do carnaval de 1866, na cidade de São José do Mipibu, no Rio Grande do Norte, a população inteira é molhada, inclusive o vigário e o Juiz de Direito, escapando apenas os doentes acamados e as crianças de colo. “Pelo carnaval ele se juntava com os companheiros para sacudir bacias d’água em quem passasse de roupa enxuta. Iam os foliões até as camarinhas, arrastar os que escapavam para o competente banho e esfregadela de farinha do reino” (Silvio Rabelo – O povoado). Vencida a fase mais aguda dos banhos inesperados nas ruas e praças, criam-se as limas-de-cheiro que estouraram por percussão ao atingirem os transeuntes desprevinidos, e as seringas de folhas de flandres para esguichos dirigidos. O Entrudo exerce domínio carnavalesco até 1903 e sob a forma de mela-mela é restabelecido no Recife em 1960.

Escola de Samba – De início, grupo carnavalesco formado por pessoas sem profissão definida, geralmente moradoras nos morros cariocas, com o único intuito de se exibir no carnaval, sem regras definidas para sua apresentação. Depois, com seus integrantes já fantasiados e agrupados a instrumentistas, ritmistas, passistas e alguns destaques na descrição de um enredo obrigatoriamente alusivo a um fato ou vulto da História do Brasil, ou a uma lenda do folclore nacional, ou a uma figura de projeção literária ou a um motivo ou símbolo do carnaval brasileiro. Com o passar do tempo, esse agrupamento criou sua própria forma institucional de grêmio recreativo com finalidade carnavalesca, mantendo os mesmos objetivos de exaltação a fatos ou figuras. De carnaval a carnaval, a exigência da glorificação a figuras ou fatos históricos vem sendo descumprida, como aconteceu com a Escola de Samba Caprichosos de Pilares, no carnaval de 1985 no Rio de Janeiro, que apresentou um enredo de certo modo irreverente, irônico, ousado e talvez panfletário. O número de integrantes de uma escola de samba varia de acordo com os recursos financeiros arrecadados especificamente para o desfile no carnaval. O compositor Ismael Silva dizia que o nove escola de samba surgiu porque no Estácio (subúrbio do Rio de Janeiro reduto de sambistas) estava localizada uma Escola Normal. “Se havia uma escola de professoras, por que não uma de samba?”. Almirante, por sua vez, afirma que o nome foi originado da expressão escola¸ sentido!, muito em voga na época por causa dos exercícios dos Tiros de Guerra. “Talvez nenhuma manifestação popular proporcione tanta variedade artística como as escolas de samba, sendo este o motivo de seu êxito. Quem quiser ver um espetáculo de dança riquíssimo, o encontra nas escolas. A música, o canto coral e o ritmo que nasce nas baterias são a beleza visual das escolas de samba, são quase um sonho de cores e formas” (Sérgio Cabral – de uma reportagem na revista O Cruzeiro, edição comemorativa do IV Centenário do Rio de Janeiro).

Estandarte – Pavilhão símbolo de um clube de frevo, maracatu ou bloco, geralmente feito de veludo, com desenhos e figuras em alto relevo bordados com fios dourados. No clube do frevo, sempre aparecem as letras C. C. M. (Clube Carnavalesco Misto) antes do nome de identificação, e a data de fundação do grêmio. Nos desfiles, o pavilhão é conduzido pelo porta-estandarte.

Evolução – Coordenação de ritmo e dança de todo o conjunto de um grêmio carnavalesco, valendo a coreografia dos passistas e a beleza dos movimentos das alas a expressão maior do desfile. Esse movimento sempre em sentido progressivo, para a frente, sugeriu a denominação evolução.

Fantasia – 1. Conjunto harmônico de arte e bom gosto, original e variado, formado pelas alas de uma escola de samba conforme o enredo. A fantasia apresentada pelos grupos componentes da escola é o principal responsável pelo agrado do desfile. 2. Vestimenta carnavalesca, usada por foliões em grupos ou isoladamente, antigamente de muito prestígio nas brincadeiras de rua, hoje quase restrita aos salões e ao brilhantismo visual dos desfiles de bem organizadas agremiações carnavalescas.

Festa do povo – Assim chamado o carnaval, porque dele participam sem preconceitos as mais variadas camadas da sociedade civil, sem que as posições sociais do cotidiano interfiram na homogeneidade da alegria coletiva.

Folião – Aquele que se entrega aos folguedos carnavalescos, nas ruas ou nos bailes, estando ou não fantasiado.

Galo da Madrugada – Bloco carnavalesco fundado em 1978 no tradicional bairro de São José, do Recife, desfilando pelas ruas centrais da cidade no sábado gordo pela manhã. Seu hino oficial é de autoria de José Mário Chaves.

Grito de carnaval – Primeira manifestação festiva do carnaval que se aproxima. Tradicionalmente acontece nos bailes promovidos pelos clubes sociais no último dia do ano, logo após os cumprimentos convencionais pela chegada do Ano Novo, quando a orquestra passa a apresentar um repertório somente de músicas carnavalescas. “Do grito de carnaval, parte-se para os bailes da temporada, e todos os sábados e domingos temos bailes carnavalescos até a semana de carnaval” (Maurício Figueiredo – Cordão da Bola Preta).

Harmonia – Entrosamento do samba-enredo bem cantado pelo puxador com os integrantes de uma escola de samba em evolução, participando a bateria que marca o ritmo.

Homem da Meia-Noite - Bloco de carnaval de Olinda (Pernambuco), surgido em 1931 de uma troça que fez sair em passeata um boneco com mais de três metros de altura. O nome foi tirado de um filme seriado, de muito sucesso no tempo do cinema mudo, em que um policial saía misteriosamente de dentro de um relógio para prender criminosos, sempre à meia-noite. Em 1937 a troça transformou-se em bloco.

Império Serrano - Escola de samba do Rio de Janeiro, fundada em 23 de março de 1947 por dissidentes das Escolas Prazer da Serrinha e Portela. No carnaval de 1948 introduziu a frigideira na bateria. Suas mais destacadas apresentações: em 1949, com o enredo Tiradentes; em 1955, com Exaltação a Caxias; e em 1956, com Caçador de Esmeraldas.

Instrumentista – Componente de escola de samba que toca algum instrumento de percussão. Os instrumentistas juntos formam a bateria.
Lança-perfume – Bisnaga de vidro ou metal, contendo éter perfumado para ser esguichado em pessoas participantes de festejos carnavalescos. O lança-perfume apareceu em 1903, vindo da França, sucedendo às limas de cheiro desaparecidas com a proibição do entrudo. Em bisnagas de vidro de 10, 30 e 60 gramas que surgiram, em 1919, as diferentes marcas brasileiras: Rodo, Rigoleto, Flirt e Vlan. No carnaval de 1927 apareceram as bisnagas de metal. Em 1965 é proibido o uso do éter perfumado em qualquer manifestação carnavalesca, por decreto do presidente Castelo Branco.

Letrista – Compositor de samba encarregado de preparar a letra a ser encaixada na melodia.

Levar o samba – V. puxador de samba.

Levar o samba no bico – Cantar o samba de uma escola em desfile, sem usar aparelho de som. Também se diz: “levar o samba no gogó”.

Lima de cheiro (limão de cheiro ou laranjinha) – Pequena esfera, geralmente feita de cera e contendo água perfumada, usada nas brincadeiras do entrudo. Surgiu em 1832. Sistema de fabricação doméstica: em fogareiros, derretiam-se cera, terebentina e tinta (carmin ou anil). Em formas de madeira, moldavam-se as duas bandas da lima que, unidas, eram cheias de água perfumada. A lima de cheiro arremessada, abria-se ao atingir a pessoa visada, molhando-a. Com o correr do tempo, tais limas passaram a ser cheias de água mal cheirosa e até perniciosa à saúde. O abuso foi proibido pelas autoridades policiais.

Limpa-goela – Diz do samba cantado, antes de começar o desfile, para animar os integrantes da escola de samba.

Limpar o samba - Coincidir as fantasias e os destaques de uma escola de samba com o tema do enredo e o samba preparado para o desfile.

Linha de frente – Grupo de diretores ou simpatizantes de uma agremiação carnavalesca que se destaca pelo trabalho. Antigamente assim chamada a atual Comissão de Frente.

Mangueira – (Escola de Samba Estação Primeira de) – Importante escola de samba do Rio de Janeiro, fundada em 28 de abril de 1928. Surgiu da fusão de diversos blocos existentes no Morro da Mangueira, dos quais se destacava o Bloco dos Arengueiros. No dia 30 de janeiro de 1936, durante o programa de rádio “A Hora do Brasil”, foi incluído um quadro especialmente dirigido à Alemanha, irradiado do Morro da Mangueira, dele participando sambistas de sua escola de samba. Em 1932 introduz na sua bateria o pandeiro oitavado e cria a Ala dos Compositores. Seus grandes carnavais: em 1967, com o enredo O mundo Encantado de Monteiro Lobato; em 1968, com Samba Festa de um Povo; e em 1984, com um enredo de homenagem ao compositor João de Barro.

Marcador – V. surdo de marcação.

Marcha – Música de compasso binário, propriamente carnavalesca pelo sentido buliçoso do seu ritmo. Sua letra, de modo geral, é aproveitada para críticas ou ironias, resultando disso a preferência dos foliões em cantá-la nas ruas e clubes dançantes. “A marchinha é uma das modalidades da cantiga carnavalesca do Rio. É mais de Momo do que o samba que surge a qualquer tempo. Fora do carnaval, a marchinha é rara” (Edigar de Alencar – O Carnaval Carioca através da Música).

Marcha-rancho – Música carnavalesca de ritmo lento e efeito repousante, de harmonia nos compassos, dizendo os maestros ter este gênero de composição musical uma atmosfera pastoral. “Embora menor em número, a marcha-rancho é talvez a mais expressiva e mais agradável composição carnavalesca, como ritmo e como cantiga” (Edigar de Alencar – O Carnaval Carioca através da Música).

Máscaras – Peças de variados estilos, formatos e tamanhos, feitas de papelão, pano, cortiça, plástico, cera ou couro, com que se cobrem rostos para disfarces. Nos carnavais de antigamente, a influência era tanta que um terço da população saía às ruas de máscaras. No ano de 1835, no Rio de Janeiro, já se vendiam máscaras para o carnaval. A firma Boris & Irmãos, estabelecida na rua do Ouvidor, 128, anunciava no Jornal do Comércio, de 6 de fevereiro, um grande sortimento de máscaras, chegado recentemente da França “com expressões jocosas e de qualidade superior”. A partir de 1936 desapareceram os disfarces do rosto por determinação das autoridades policiais, como medida de segurança pública, ficando as máscaras de tamanho grande para decoração dos salões de bailes e as abrangentes de largos espaços para enfeite de ruas e avenidas durante o carnaval. Máscaras também eram chamadas as pessoas com o disfarce.

Mascarada – Grupo de pândegos foliões disfarçados com máscaras.

Mascarados – Foliões anônimos do carnaval de antigamente, isolados ou em grupos pequenos, fazendo carnaval de rua com disfarces dos mais variados estilos. “Mascarados que importância eles assumiam perante o seu espírito de criança. Tomava-os, na imaginação infantil, como seres reais que apareciam nas manhãs de domingo da qüinquagésima e se sumiam nas tardes de quarta-feira de Cinzas misteriosamente”. (Mário Sette – Maxambombas e Maracatus).

Mestre de bateria – Regente de bateria de escola de samba. Antigamente era chamado de apitador porque regia seus subordinados trilando um apito.

Mestre-sala – Figurante de rancho ou de escola de samba, com habilidades suficientes a projetá-lo individualmente entre os destaques de sua agremiação, pois os seus meneios garbosos, de reverência à porta-bandeira e aos assistentes projetam-no durante o desfile. Sua fantasia é rica e atraente: cabeleireira artisticamente penteada, vestimenta lembrando trajes da Corte de Luís XIV, nas mãos um leque adornado descrevendo movimentos de galanteador. Na sua exibição, o mestre-sala mostra-se elegantemente cortês nos passos e nos gestos. Houve época em que a figura do mestre-sala poderia ser representada por uma mulher, como aconteceu no carnaval carioca de 1921, quando Maria Adamastor foi muito aplaudida ao desfilar em um rancho. “De acordo com os antigos cronistas cariocas, foi o baiano Hilário Jovino Ferreira conhecido como Lalu de Ouro, que teve a primasia de introduzir a figura garbosa e astuta do mestre-sala nos ranchos do Rio de Janeiro. Ele foi o primeiro a desempenhar tal função no carnaval carioca, isso das últimas décadas do século passado ao princípio deste, recebendo calorosos aplausos pela bizarra coreografia, evoluindo e sapateando na ponta dos pés” (J. Muniz Jr. – Do Batuque à Escola de Samba). Hélio Laurindo Silva, mais conhecido por Delegado, da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, tornou-se o mais famoso mestre-sala do carnaval do Rio de Janeiro, por haver desfilado durante 26 anos consecutivos e sempre obtendo a nota máxima da comissão julgadora. É detentor de mais de 50 troféus e taças conferidos à sua gloriosa carreira de sambista.

Micareta – Gíria baiana para designar o segundo carnaval da cidade de Feira de Santana, Bahia, festejado a Aleluia com o término da Semana Santa.

Miudinho – Variante do samba partido alto, executada com a leve percussão dos movimentos de calcanhares e pontas dos pés.

Música de carnaval – Composição musical (marcha, marcha-rancho, samba, batucada e até mesmo valsa) feita especialmente para o carnaval. Uma ou outra ultrapassa o período carnavalesco graças à consagração popular, ressurgindo em todos os carnavais, a exemplo de “Mamãe eu quero”, “Teu cabelo não nega” e “Máscara Negra”.

Óculos – Disfarce feito de pano e material plástico, antigamente usado para evitar os esguichos do lança-perfume. Apareceram no carnaval de 1900.

Olé – Repinicado contínuo de um surdo ou tarol, provocando um inesperado intervalo nas batidas dos instrumentos da bateria de uma escola de samba, até a sacudidela de todos os chocalhos e ganzás marcando a entrada do restante. Inovação introduzida pelo Mestre André, da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel, do Rio de Janeiro. Às vezes, o olé é marcado pela cuíca.

Omelê (ou omolê) – Instrumento de percussão, criado por Fustino Pedro da Conceição para substituir a cuíca, podendo ainda entrar na vaga de uma caixa-surda ou de um tamborim. O omelê não foi aprovado pelos diretores de bateria.

Palhaço – Fantasia com máscara que resiste às inovações das brincadeiras carnavalescas, originária do antigo teatro bufo.

Pandeirista – Tocador de pandeiro.

Pandeiro – Instrumento de percussão, constituído de uma pele esticada num aro ou num quadrado de madeira ou de metal, com ou sem guisos, no qual se bate com as mãos e acrobaticamente com os cotovelos. É a parte da bateria de uma escola de samba, ocupando a quinta fila na ordem de colocação dos instrumentos para o desfile. Alguns ritmistas usam o pandeiro para demonstração dos seus dotes de malabaristas do samba.

Pandeiro de ouro – Pandeirista filiado a uma Escola de Samba, eleito como o melhor do ano em julgamento que analisa ritmo e malabarismo. O primeiro concurso “Pandeiro de Ouro” foi realizado em 1965, vencendo Antônio Augusto, pandeirista da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel.

Pano – Estandarte; bandeira de rancho ou de cordão carnavalesco. “Ao jeito de batedores precediam o “pano” aproximadamente dois metros de comprimento por um de largura” (Jota Efegê – Ameno Resedá).

Papier-macher (francesismo) – Pasta de papel e cola, consistente, de uso na fabricação artesanal de máscaras e adereços para o carnaval.

Passarela – 1. Faixa de rua ou avenida destinada ao desfile de escolas de samba, clubes e blocos. 2. Espaço demarcado nos salões de baile para apresentação de fantasias carnavalescas.

Passista – Integrante de escola de samba, clube de frevo ou de bloco que se exibe com total liberdade de movimentos numa coreografia dominada pelo improviso do malabarismo das pernas. “Como um improvisador emérito, o passista diz-no-pé o verdadeiro samba. Sempre criando e nunca imitando, riscando o chão com os passos mais incríveis num improviso virtuoso, exibindo uma arte espontânea e pura” (J. Muniz Jr. – Do Batuque à Escola de Samba).

Passo – Dança arbitrária e essencialmente democrática figurada em saracoteios espontâneos a espantosa flexibilidade de corpo e destreza de pernas no ir e voltar, subir e descer, as negaças maliciosas de uma ginga destrosa que define a coreografia individualista do folião pernambucano, no envolvimento provocado por uma orquestra de frevo barriguinha, chã de bundinha, corrupio, dobradiça, chã de bandinha, saca-rolha, parafuso, peru na chapa quente, tesoura, cortando jaca, mulher carregando menino e frango assado. Em 1929, o pernambucano da Escada, Luís Rodrigues da Silva, juntamente com vários companheiros do I Batalhão de Caçadores, faz uma demonstração do passo na cidade de Petrópolis. No carnaval de 1935, passistas de frevo se apresentam na avenida Rio Branco, do Rio de Janeiro, animados pelo pernambucano Romeu de Paula.

Passo contado – Coreografia de regras fixas, sem movimentos espontâneos, adotada em algumas escolas de samba no desfile.

Passo marcado – Passo contado. Coreografia marcada em conjunto, sem espontaneidade.

Pastora – Componente de ala de escola de samba, rancho ou bloco, geralmente com fantasia vistosa, dançando e cantando no conjunto da agremiação em desfile. “Originárias dos cordões de pastoris nordestinos, que dançavam pelas ruas no Natal, as pastorinhas acabaram integrando-se nos festejos carnavalescos, desfilando pelos ranchos, e passando posteriormente para as escolas de samba” (J. Muniz Jr. – Do Batuque à Escola de Samba).

Peleja – Denominação da batalha de confete no começo da década de 20.

Pierrô – Fantasia de carnaval inspirada no vestuário de personagem tradicional das pantomimas do teatro italiano. A escritora Eneida criou em 1959, no Rio de Janeiro, o Baile dos Pierrôs, realizado durante dez carnavais seguidos. Em 1967, seus conterrâneos do Pará, e em sua homenagem, realizaram em Belém um baile carnavalesco com mais de 1800 pierrôs.

Pitombeiras dos Quatro-Cantos – Troça carnavalesca, fundada em 1947 na cidade de Olinda, Pernambuco, por foliões residentes no bairro dos Quatro Cantos. Nos dois primeiros carnavais de sua apresentação, os integrantes da troça saíram de dorsos nus e empunhando galhos de pitombeira, disto resultando o nome da agremiação. De 1949 em diante, a cada ano desfila com uma fantasia diferente, já com estandarte e música própria, e quase sempre com um tema no qual inclui alegorias.

Porre – Líquido do lança-perfume borrifado num lenço e cheirado pelo folião, para sentir um ligeiro estado de ebriedade. Com o desaparecimento do lança-perfume, o vício foi esquecido.

Porta-bandeira – Pastora privilegiada pela responsabilidade de conduzir a bandeira-símbolo de sua escola de samba, executando uma coreografia especial, quase um bailado clássico. Sua fantasia é luxuosa, lembrando trajes de rainha, e seu desempenho garboso e reverente é ponto de muita atração, fazendo com o mestre-sala o destaque maior do desfile. Não cantando durante sua exibição, a porta-bandeira é colocada entre duas alas responsáveis pelo espaço para ela evoluir. Há escolas de samba que apresentam uma segunda porta-bandeira, esta conduzindo a bandeira do desfile no ano anterior. “Embaixatriz do samba, ela tem que saber rodopiar nas pontas dos pés, evoluir rapidamente com a bandeira, esticando o pano para exibir o nome de sua escola e acompanhar a coreografia inventada na hora pelo mestre-sala. Sua ginga também deve ser diferente e no momento em que estiver apresentando a bandeira para os jurados, deve sorrir sempre, sem mostrar cansaço” (de uma reportagem da revista Veja, de 18.2.70). No carnaval de Niterói, de 1984, o decorador Raimundo dos Santos Oliveira, travestido de mulher, desfilou como porta-bandeira pela Escola de Samba Unidos do Gavião.

Porta-cartaz – Condutor do cartaz de identificação de um bloco carnavalesco. É a primeira figura a puxar o desfile. Por tradição, os bloco, por bem organizados que sejam não têm bandeira ou estandarte.

Porta-estandarte – Componente de clube de frevo, de rancho, de maracatu ou caboclinhos, encarregado de conduzir o pavilhão de sua agremiação durante o desfile no carnaval. Tradicionalmente, o porta-estandarte (homem ou mulher) veste fantasia à Luís XV: peruca branca, camisa rendada com babados, jaqueta de cetim bordada, pantalonas até o joelho, meias de cor e sapatos de fivelas brilhantes. Já foi comum um clube de frevo ter dois ou três porta-estandartes, para revezamento durante o desfile.

Porta-machado – Jovem que acompanhava a porta-estandarte de um rancho, com a missão simbólica de protegê-la de investidas e agressões, quando dois grupos similares se encontravam numa rua ou praça de animação carnavalesca. Normalmente eram três porta-machados de cada lado da porta-estandarte, empunhando machadinhos. “Havia, então, para proteger a cobiçada figura do cortejo ao jeito de batedores, os “porta-machados”, geralmente meninos, que caminhando, dois ou três de cada lado dos importantes personagens do conjunto e empunhando o instrumento que lhes dava denominação...” (Jota Efegê – Ameno Resedá). Dessa proteção à porta-estandarte do rancho originou-se a coreografia dos mestres-salas. Também é chamado de porta-machado o aprendiz de mestre-sala.

Portela – Escola de Samba do Rio de Janeiro, surgida em 1923 no subúrbio carioca de Oswaldo Cruz como bloco carnavalesco. Adotou o nome Portela em 1º.3.35, substituindo o antigo nome “Vai como pode”. Foi a primeira escola de samba a apresentar alegorias no desfile. Em 1930 cria Comissão de Frente uniformizada e no ano seguinte apresenta a novidade do samba-enredo. Seus carnavais de maior expressão: em 1941, com o enredo Dez anos de glória; em 1946, com Alvorada do Novo Mundo; em 1953, com Seis Datas Magnas, recebendo a nota máxima em todos os quesitos; em 1959, com Brasil, Panteom de Glórias; em 1966, com Memórias de um Sargento de Milícias.

Praça da Apoteose – Recanto final do conjunto arquitetônico projetado por Oscar Niemeyer e construído no governo de Leonel Brizola, do Rio de Janeiro, inaugurado no domingo de carnaval (4 de março) de 1984. Nesse recanto, as escolas de samba cariocas encerram os seus desfiles, concentrando no estilo apoteótico todas as suas alas, alegorias, destaques e a bateria. “Com a Praça da Apoteose, o carnaval linear se transforma numa coreografia de massas: quatro, cinco mil pessoas cantando, tocando e dançando em bloco” (de uma reportagem da revista Manchete, de 24.3.84).

Praça Onze – Antes da reurbanização do Rio de Janeiro, o logradouro preferido pelos moradores dos morros cariocas para suas reuniões boêmias, batucadas e manifestações carnavalescas. Local que serviu de palco para os primeiros desfiles dos grupos pioneiros que se transformariam em escolas de samba. “Já na década de 1900 a Praça Onze se tornava famosa, conhecida como uma Meca de Sambistas, onde podiam se encontrar blocos carnavalescos, participando de competições” (Amaury Jório/ Hiram Araújo – Escolas de Samba em Desfile). Em 1942, com a abertura da avenida Presidente Vargas, esse famoso reduto do carnaval carioca desapareceu, restando um pequeno histórico do antigo espaço freqüentado por sambistas. No carnaval de 1960, com a distribuição dos desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro em 3 grupos, de acordo com a categoria e classificação delas nos certames oficiais, a Praça Onze passou a servir aos desfiles do Grupo III.

Prato (de banda) – Instrumento de percussão, apropriado às bandas de música, introduzido numa bateria de escola de samba, pela primeira vez, no carnaval carioca de 1955, para efeito de cadência militar no enredo “Exaltação a Caxias” apresentado pela Escola de Samba Império Serrano. Antes, na década de 20, alguns cordões do carnaval paulistano incluíam pratos no seu instrumental, só que eram batidos com uma baqueta e não no estilo tradicional de um prato contra outro.

Prato (de cozinha) – Utensílio de uso doméstico, antigamente introduzido na bateria de escola de samba. Tocado com uma faca produzia som semelhante ao do reco-reco. Com o passar do tempo desapareceu.

Préstito – Desfile organizado de carros alegóricos, antigamente a principal atração do carnaval carioca. “A beleza dos carros alegóricos, os carros de idéias e os de crítica, o luxo das fantasias, os fogos de artifício que os clubes geralmente queimavam em sua passagem, fez com que nascesse no povo um culto pelos préstitos carnavalescos” (Eneida – História do Carnaval Carioca). V. Clube de Alegorias. História.

Prospecto – Folheto de papel ordinário com um samba impresso, cabendo ao autor da música distribuí-lo nas quadras de ensaio de sua escola de samba. O papelucho geralmente é financiado por um estabelecimento comercial que aproveita o expediente para uma propaganda.

Puxador de ala – Pessoa encarregada de coordenar o avanço das alas de uma grêmio carnavalesco em desfile, principalmente nas escolas de samba que, por força de regulamento, têm limite de tempo para sua apresentação.

Puxador de samba – Cantor de prestígio que interpreta o samba-enredo de sua escola de samba, durante o desfile. Não basta ter fôlego e possuir uma boa voz; deve saber levar o ritmo e a tonalidade adequados ao samba também cantado pelas pastoras. Com o crescimento do número de componentes em desfile, o puxador de samba passou a usar aparelhagem de som (microfone e amplificador).

Rancho – Agremiação carnavalesca, derivada dos ternos e ranchos da época natalina ainda em exibição nas zonas rurais do Norte e Nordeste. A religiosidade da origem tomou feição recreativa, com dança e coreografia disciplinadas, tornando-se espetáculo do Carnaval, em decadência a partir de 1930 com o prestígio das escolas de samba. Tem gênero musical próprio: a marcha-rancho. O primeiro rancho a desfilar no Carnaval foi em 1873, no Rio de Janeiro.

Reco-reco – Instrumento de percussão introduzido na bateria de uma escola de samba pela Portela. Feito de madeira com entalhes transversais sobre os quais se esfrega uma vareta. Originariamente feito de um gomo de bambu. Nas baterias já aparece de forma sofisticada, armado numa caixa de metal com uma mola esticada para produzir um som bastante estridante. No esquema de colocação dos instrumentos de uma bateria com muitos elementos, os reco-recos compõem a sexta fila.

Rei Momo – Símbolo da grandeza do Carnaval, sempre representado por um folião muito gordo e de simpatia irradiante, vestindo fantasia vistosa, não faltando a coroa majestática. Segundo a mitologia dos gregos, Momo, filho do Sonho e da Noite, teria nascido do estado primitivo do mundo que é o Caos, influenciado pelas névoas e estrelas. Tomado pela irreverência, o zombador deus do Olimpo é o símbolo da boêmia. O primeiro Rei Momo brasileiro apareceu em 1932: um boneco gigante, feito de papelão colorido descansando a obesidade numa fivela dourada e cobrindo a cabeça com uma coroa de lata reluzente. No ano seguinte, por iniciativa do jornal “A Noite”, surge o Rei Momo de carne e osso, cabendo ao folião Francisco Morais Cardoso (redator de turfe), de 120 quilos de peso, servir como monarca da folia carioca. A partir de 1967 o Rei Momo do carnaval do Rio de Janeiro passa a ser regido pelo Decreto nº 1.455, devendo ter no mínimo 100 quilos, medir 1m65 ou mais de altura, ser maior de 21 anos e portador de reconhecida idoneidade moral, além de apresentar atestado de boa saúde. Pela primeira, no Recife e em 1965, num concurso organizado pela TV Jornal do Comércio para escolha do Rei Momo do carnaval pernambucano, o concorrente que obteve o 2º lugar foi declarado Vice-Rei Momo. Elísio da Conceição, mais conhecido como Macula, foi o primeiro Rei Momo de cor escura, eleito para o carnaval carioca de 1972.

Reinado de Momo – Bailes, desfiles de escolas de samba, cortejos de clubes, blocos nas ruas, troças brincalhonas, mascarados e foliões fantasiados, música, tudo que tem sentido carnavalesco. Antigamente, o Reinado de Momo era de três dias, terminando na madrugada da quarta-feira de Cinzas. Atualmente, Momo reina por mais tempo porque o Carnaval começa muito antes do dia marcado no calendário. Na cidade de Olinda, Pernambuco, por decreto municipal o carnaval é de 11 dias.

Repinique – Surdo de tamanho pequeno, integrante do instrumental de uma escola de samba.

Ritmista – Passista de escola de samba, integrante ou não da bateria, que executa o seu instrumento de percussão enquanto apresenta passos e meneios de sua livre coreografia.

Samba – 1. Baile popular urbano e rural, sinônimo de pagode, função, fobó, arrasta-pé, balança-flandre, forrobodó, fungangá. 2. Gênero de música popular em todo o Brasil. 3. Dança de roda, inicialmente o mesmo batuque, dançado, como elemento citadino, com par enlaçado. Danças com umbigadas vieram para a América Latina com outros nomes: lundu, lariate, calenda, batuque (batuque comum, batuque paulista, goiano, cateretê) etc. Também coco, dança de roda, com solista no meio, incluía a umbigada, assim como o esquecido baiano ou baião. Samba é nome angolano, que teve sua ampliação e vulgarização no Brasil, consagrando-se na primeira década do século XIX. Miguel do Sacramento Lopes Gama, em O Carapuceiro (nº 6, Recife, 3 fev. 1838), esbraveja indignado contra o samba d´almocreves, e no nº 64, de 12 nov. 1842, registra:

Aqui pelo nosso mato,
Qu´estava então mui tatamba,
Não se sabia outra cousa
Senão a Dança do Samba.

O nome, entretanto, teve vulgarização lenta, e apenas em 1916 apareceu a primeira música impressa (“Pelo Telefone”, de Ernesto Sousa, Donga, Rio de Janeiro) em que era mencionado. O samba possui atualmente uma grande variedade de tipos e de formas, rurais e urbanas, e, no Rio de Janeiro, até samba de morro, por vezes com a denominação de batucada. “Desde os primeiros tempos, os missionários combateram violentamente essa dança, por ser indecente. Nisso se distinguiram sobretudo os capuchinhos, de propaganda fide, de Roma. Não conseguiram, porém, aboli-la, por ser apaixonadamente apreciada por todos os habitantes”. (Viagem no Interior do Brasil, Rio de Janeiro, 1951). Pohl viu a dança em vários pontos de Minas Gerais e Goiás. É visivelmente o samba. Édison Carneiro estudou, em Samba de Umbigada (Rio de Janeiro, 1961), os motivos coreográficos tambor-de-crioula, bambelô, coco, samba-de-roda, partido-alto, samba-lenço, batuque e jongo-caxambu, com excelente técnica de exposição do comunicante. Na espécie, impõe-se a leitura aos interessados.

Samba atravessado – Canto desencontrado entre alas de uma escola de samba, com prejuízo na contagem de pontos. “O outro problema da Portela, ocorrido no desfile (1972), foi que os aparelhos de rádio distribuídos entre os integrantes da escola não deram o resultado que se esperava e o samba atravessou” (Sérgio Cabral – As Escolas de Samba).

Samba de carnaval – Gênero de música urbana, criado e aplicado às festas carnavalescas, de ritmo batucado por influência das danças e folguedos herdados dos descendentes dos negros africanos, embora os primeiros sambas compostos para consumo no carnaval tenham surgido sob o signo do maxixe, a exemplo do antológico Pelo Telefone, de Donga e Mauro de Almeida, lançado em 1916.

Samba de morro – Samba composto por moradores dos morros cariocas, geralmente para animar ensaios de passistas e da bateria de uma escola. Assim chamado porque, com o crescimento imobiliário do Rio de Janeiro, a partir da década de 30, impondo o aproveitamento de todas as áreas urbanas da cidade, os negros fixaram residência nos morros e neles continuaram as suas rodas de samba, antes realizadas de preferência no bairro da Saúde e na Praça Onze e adjacências.

Samba-enredo – Música e letra compostas por sambistas ligados à Ala dos Compositores de uma escola de samba, com base em motivos históricos ou lendários, também sobre figuras de realce na cultura brasileira ou do melhor conceito popular. “... a necessidade de resumir os temas históricos para claro entendimento de um público sem qualquer informação prévia dos assuntos escolhidos, levou os letristas das escolas de samba a comporem verdadeiros poemas épicos” (José Ramos Tinhorão – Pequena História da Música Popular). Historicamente, o primeiro samba-enredo – Academia do Samba – surgiu no carnaval carioca de 1931, apresentado pelo bloco Vai Como Pode (depois Escola de Samba Portela). Em 1969, a Escola de Samba Salgueiro, do Rio de Janeiro, com o enredo Bahia d Todos os Deuses introduziu o samba-enredo curto.

Samba no pé – Malabarismo de sambista sempre espontâneo e executado no desfile da escola de samba. “E de improvisador, de criador que era, mostrando o samba-no-pé-, transformou-se num malabarista, num presepeiro ou cômico” (J. Muniz Jr. – Do Batuque à Escola de Samba).

Sambista – Componente (homem) de escola de samba que “diz no pé”, canta, compõe ou toca instrumento de percussão. “... é uma Escola que vem se firmando, sobretudo em razão de possuir em seus quadros os mais experimentados sambistas” (Amaury Jório/Hiram Araújo – Escolas de Samba em Desfile).

Sambódromo – Nome dado pelo povo carioca ao conjunto arquitetônico construído na avenida Marquês de Sapucaí, na cidade do Rio de Janeiro, destinado a acomodar os assistentes do grande desfile das escolas de samba.

Seringa – Instrumento rústico, fabricado com folha de flandres, usado nas brincadeiras do entrudo. Levantado ao alto com as duas mãos, com o cabo de madeira apoiado na barriga do seu portador, a seringa é pressionada gradualmente e um esguicho lança água nas pessoas postadas nas varandas dos sobrados ou que passam a certa distância nas ruas. “Vinha vindo um troço de colegas que carregavam para o entrudo seringas de flandre e bexigas de dar clister em cavalo, com um jato capaz de derrubar um cristão” (José Américo de Almeida – Memórias).

Serpentina – Fita estreita de papel, muito comprida e de cores variadas enrolada em forma de disco que se desenrola em arremesso nos festejos carnavalescos. Surgiu no carnaval de 1892. “A avenida é o mar dos foliões. Serpentinas cortam o ar carregado de éter, rolam das sacadas, pendem das árvores e dos fios, unem com seus matizes os automóveis do corso” (Marques Rebelo, no romance Marafa).

Surdo centralizador – Tambor que fica no centro de uma bateria de escola de samba. Sua função é a de centralizar o ritmo, evitando o atravessamento quando o conjunto de instrumentistas é muito grande.

Surdo de corte – Tambor de tamanho médio, servindo na bateria como auxiliar na marcação dirigida pelo surdão.

Surdo de marcação – Tambor de tamanho grande, de sonoridade abafada, tocado para marcar o ritmo em sintonia com outro instrumento do mesmo estilo e categoria. Sua participação é indispensável porque constitui a invariante no conjunto. Faz parte do grupo chamado de “couros pesados”. Sua posição na bateria de uma escola de samba é nas extremidades. O surdo de marcação surgiu quando as baterias cresceram muito o número de seus integrantes.

Surdo de repicar – Tambor de tamanho médio, de som metálico, que preenche as batidas do ritmo conjuntamente com os surdos de marcação, entre os quais toma posição numa bateria de escola de samba. Outro instrumento integrante do grupo de “couros pesados”.

Tamborim – Pequeno tambor de tamanho mais comprido e mais estreito que o tipo comum. Instrumento componente do grupo de miudezas de uma bateria de escola de samba. Na ordem de colocação dos instrumentos para o desfile, os tamborins ocupam a terceira fila.

Tarol – Tambor de feitio achatado, componente da orquestra do maracatu, da fanfarra e da bateria de escola de samba. Nesta, na ordem de colocação dos instrumentos para o desfile, os taróis ocupam as nona e décima filas. Como integrante de uma fanfarra (orquestra de frevo), o tarol foi introduzido em 1901 pelo Clube dos Caiadores, do Recife. Dado o acorde final de um frevo-de-rua, o tarol (juntamente com o surdo) continua rufando, estabelecendo um pequeno intervalo para a orquestra e os passistas descansarem até a introdução de outra música do mesmo gênero.

Tia Ciata – Baiana festeira, babalaô-mirim respeitada que residiu na casa 117 da rua Visconde de Itaúna (proximidades da Praça Onze), no Rio de Janeiro. Também conhecida por Siata, Asseata, Asseiata ou Assiata. Nome de batismo: Hilária Batista de Almeida. Na sua casa, nas décadas de 10 e 20, promovia animadas rodas de samba com a participação de macumbeiros, pais de santo e sobretudo boêmios ligados aos ranchos e cordões carnavalescos, muitos deles compositores, inclusive Pixinguinha, Sinhô, Donga e João da Mata. Numa dessas reuniões, em fins de 1916, foi composto o samba “Pelo Telefone” por Donga e Mauro Almeida. “Os sambas na casa de Asseiata eram importantíssimos por que, em geral quando eles nasciam no alto do morro, na casa dela é que se tornavam conhecidos na roda. Lá é que eles se popularizavam, lá é que eles sofriam a crítica dos catedráticos” (Francisco Guimarães (Vagalume) – Na Roda do Samba).

Tias – Carinhosamente assim chamadas as baianas radicadas no Rio de Janeiro, no fim do século passado, que se notabilizaram pelo seu entusiasmo às rodas de samba e ao carnaval. As que mais se destacaram: Tia Rosa, Tia Ciata, Tia Sadata, Tia Bebiana, Tia Amélia (mãe do compositor Donga), Tia Perciliana (Mãe do compositor João da Baiana), Tia Neném do Buzunga, Tia Doninha, Tia Zezé, Tia Odete, Tia Perpétua, Tia Veridiana e Tia Gracinda. “Antigamente, todos os ranchos que saíam no Carnaval tinham uma obrigação – a de irem cumprimentar a Tia Ciata e a Tia Bebiana. (...) Tratava-se de compromisso tão sério que o rancho que não o fizesse era considerado como não tendo saído no carnaval” (de uma reportagem publicada no Jornal do Brasil de 8.3.21). Em São Paulo, Tia Olímpia angariou muito prestígio no bairro da Barra Funda.

Tímbalo – Tambor formado por uma caixa semi-esférica, coberta por uma pele fortemente retesada, que produz sons diversos conforme a batida com baquetas. De vez em quando, sem regra definida, o tímbalo é introduzido na bateria de escola de samba.

Trote – Indiscrição dirigida por mascarado a alguém que dele se aproximava. A brincadeira do “você me conhece?”, dita em falsete pelo folião com disfarce para não ser reconhecido. “Trotes passados por grupos de caras escondidas, na melhor tradição do antigo entrudo, e cujo humor ia do dito de espírito à mais deslavada grossura” (Mário Lago – Na Rolança do Tempo).

Vareta – Peça de madeira, guarnecida de pano ou couro numa de suas extremidades, usada para bater em instrumentos de percussão.

Velha-Guarda – Grupo de velhos sambistas de uma escola de samba.

Verde-Rosa – Apelido da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, do Rio de Janeiro, referindo-se às cores oficiais da agremiação, escolhidas pelo compositor Cartola que as viu, quando menino, como símbolo do Rancho Arrepiado, do subúrbio carioca das Laranjeiras.

Zabumba – 1. Grupo de instrumentos barulhentos que, antigamente, animava a troça carnavalesca do Zé Pereira. 2. Grandes tambores, no passado de fabricação artesanal, integrantes de uma orquestra de maracatu, também chamados de bombos. “Maracatus com cheiro de século passam deixando um barulho ensurdecedor de zabumbas” (Evandro Rabelo – trecho da nota de apresentação do livreto Nóis sofre mas nóis goza!).

Zé Pereira – 1. Apelido dado ao português José Nogueira de Azevedo Paredes, sapateiro no Rio de Janeiro, com oficina instalada na rua São José, 22. Na segunda-feira do carnaval de 1846 ele juntou amigos e realizam barulhenta passeata pelas ruas, improvisando uma zabumba com os recursos do momento. Origem do nome Zé Pereira: na primeira saída da barulhenta troça, os companheiros do português sapateiro, dominados pela bebida que foram ingerindo durante o passeio, trocam o nome do chefe do grupo e dão vivas a Zé Pereira em vez de Zé Nogueira. Por muitos anos, outros grupos já denominados de “Zé Pereira” fizeram abertura do carnaval com barulhentas passeatas. 2. Arranjo musical de ritmo sacudido e linha melódica de efeito ribombante, preparado em 1869 pelo ator Francisco Correa Vasques de uma canção da peça francesa “Lês Pompiers de Nanterre”, incluíddo no espetáculo “Zé Pereira Carnavalesco”, encenado no Teatro Fênix Dramática. Atualmente, esta versão é executada na abertura de bailes carnavalescos realizados em clubes tradicionais. “O Zé Pereira foi durante mais de meio século grande fator de animação dos folguedos carnavalescos de rua. Era mesmo um dos índices avaliadores do entusiasmo da festa. Pode-se dizer que foi a primeira manifestação autônoma de música no carnaval carioca” (Edigar de Alencar – O Carnaval Carioca através da Música). A figura barulhenta do Zé Pereira reaparece, em 1981, no carnaval do Rio de Janeiro, eleito em concurso realizado pela Riotur.

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