sábado, 8 de setembro de 2007

02.11 - Do samba de protesto ao marketing político

Do entrudo as escolas de samba, a história do carnaval campista passou por diversos períodos e etapas até chegar aos nossos dias. Foram inúmeros tipos de associações, bem como uma infinidade de grupos e associações que evoluíram através dos tempos, acompanhando a evolução dessa festa que teve origem nas Saturnalia.
Ao pesquisar a história do carnaval campista um fato chama a atenção do pesquisador, a ausência do registro histórico, uma data para comprovar os fatos e registrar para a posteridade fatos marcantes que poderiam dar àqueles que vivenciaram o carnaval, o pioneirismo dos seus atos.
O povo de Campos viu passar pelas suas ruas e avenidas, diversas sociedades carnavalescas, bem como cordões, ranchos, blocos de samba, de embalo, bois pintadinhos e as atuais escolas de samba.
Contar em detalhes a história de cada grupo através das décadas do século passado não é o objetivo deste trabalho de pesquisa, mas apenas para efeito de registro, o pesquisador dá um salto no tempo, e mostra em algumas pinceladas esses grupos que também fizeram história até chegarmos finalmente nas escolas de samba, objetivo maior dessa pesquisa.
O que se sabe até aqui, é que as letras dos sambas sempre tiveram como tema a crítica aos fatos acontecidos em determinados períodos. Estas músicas foram muito utilizadas quando o carnaval ainda vivia sob a época dos cordões carnavalescos onde cada escola resolvia criar um samba para provocar também a ira de outras escolas e para gabar-se da sua. Como foi contado por Jorge da Paz Almeida, conhecido como Jorge Chinês, em seu livro, “Campos: 50 anos de carnaval”.


“...Mas, a partir do momento em que era dado o grito de guerra, começava o negócio. Houve um ano que por motivo de força maior o Filhos do Sol não saiu, então a Lira Brasileira não fez por menos. Cantou uma marcha assim:

“A luz do Sol já perdeu o brilho
O da Estrela já se apagou
Só quem brilha é a nossa Lira
Chega Iaiá, chega ioiô”.


A resposta da Estrela veio imediatamente:

“Filhos do Sol
Nos deixou sozinhos
Pra combater com a tal da Lira
Eles disseram que nós perdemos o brilho
Porém protesto, protesto que é mentira
A bela Estrela alegre e prazenteira
Queremos ver de perto
A tal Lira Brasileira”. (bis)


Já o Terror na Zona, que oferecia inovações, também apresentava uma marcha com uns versos assim:

“Encarnado azul e branco
São cores de muito esplendor
Aqui chegou para dar exemplo
Do carnaval é o terror”.


Quinze dias depois, os Caçadores das Montanhas davam seu recado, cantando da seguinte maneira:

“Terror na Zona tem uma marcha
Que diz que ele é o exemplo
Para mostrar ao povo campista
Que bonito é o Terror
Terror na Zona se esqueceu
Ou então se enganou
Que aqui em Campos ainda existe
Da Montanha o Caçador”.


Depois com o surgimento das associações de classe as escolas de samba passaram a utilizar temas relativos a história do Brasil e do mundo, apesar disso uma vez ou outra uma escola de samba criava um samba para provocar a rivalidade contra as outras escolas. Como conta Jorge da Paz Almeida em seu livro:

“... As divergências entre escolas eram por zonas, havia uma rivalidade grande entre Sorriso e Mangueira em Guarulhos e, do lado de cá, Salgueiro e Catete e ainda Coroa em Samba e Cruzeiro que será lembrada por muito tempo.
Coroa em Samba começava seus ensaios logo após a Semana Santa, não só ensaiava como fazia passeata pelo bairro. Naturalmente, haviam os que não gostavam de samba fora de época, mas como a turma era conhecida ninguém se queixava. Um dia a cavalaria apareceu e interrompeu a passeata, dando uma carreira nos batuqueiros. O Cruzeiro não fez por menos, lançou um samba:


“Até que chegou o dia
Batendo noite e dia
Chegou o que o Cruzeiro queria
Ver a Coroa correndo no meio da cavalaria”.


Houve na época muitas brigas por causa deste samba. A resposta não veio em outro samba, mas em versos. Sempre que se formava um samba o pessoal na Coroa em Samba cantava versos mais ou menos assim. De acordo com o estribilho me lembro de um que era muito cantado pelos bambas daquele bairro:

“No morro quando o sol vai despontando
Eu sou um trabalhador
Que venho descer a ladeira reclamando
Ninguém ora meu bem
Vai pro trabalho com alegria
Por causa de uma mulher me regenerei
A orgia então abandonei.”


Aí vinham logo os versos:

“Eu queria ser balaio na colheita do café
Para ficar dependurado nas cadeiras da mulher
Vai-se embora vagabundo
Quem mandou foi Zé Com Fome
Se a Coroa em Samba morrer
No bairro não tem mais homem”.


Com a chegada de novos personagens, com novas idéias, o carnaval campista começa a trocar experiências com a comunidade carnavalesca do Rio de Janeiro, e como fator para essa integração, a escola de samba Mocidade Louca foi convidada para fazer um desfile na avenida Presidente Vargas, em comemoração ao 4º Centenário da cidade do Rio de Janeiro. E esse fato é narrado por Jorge da Paz Almeida em seu livro,

“... Foi neste período que a escola foi ao Rio de Janeiro, capital do antigo Estado da Guanabara, por ocasião do quarto centenário da cidade de São Sebastião.
Apresentando o enredo Exaltação ao Estado do Rio, a escola não cantou seu samba enredo, pois levou um especial para oportunidade, que cantando na Presidente Vargas sensibilizou os cariocas, que aplaudiram de pé nas arquibancadas.


“Rio de Janeiro, parabéns pra você
Parabéns ó Rio pelo seu aniversário
Que o Senhor do alto do Corcovado
Abençoe o seu quarto centenário”.


Nos tempos coloniais
Estácio de Sá gravou seu nome na história
Suas belezas naturais marcam no presente
Seu futuro de glórias
Francisco Alves bem cantou-ô-ô
Com sua voz maravilhosa
Em versos de Assis Valente e Ari Barroso
Nos sambas típicos de Noel Rosa
A história do Rio maravilhoso


“És tão suave no calor, ardente no amor
Agradável é o seu frio
Rio dos sambas e das serenatas
Hoje é reino das mulatas
Nós te saudamos ó Rio”.


Mas, devido ao fato dessas associações não terem recursos para bancar os custos de um desfile, elas vêem no poder público uma fonte para custear a montagem de carros alegóricos, fantasias, estandartes e alegorias.
Diante dessa facilidade em obter esses recursos, as escolas então começam a vender seus espaços e seus enredos para homenagear homens públicos que construíram obras no município. Daí então, as escolas de samba passam a inverter e mudar a história, dos antigos sambas de protesto, essas escolas viram espaço de marketing para os políticos locais.
Em 2001, três escolas de samba resolveram homenagear personalidades políticas do município, como o ex-prefeito Anthony Garotinho, e o deputado estadual João Peixoto. Que foram homenageados respectivamente pelas escolas Os Psicodélicos e Unidos do Capão.


G. R. E. S. OS PSICODÉLICOS
“Quem sabe faz a hora”

(Homenagem ao Governador Anthony Garotinho)
Autores: Toninho Shita, Markinho Grande e Adalto Sepúlveda

“Nos braços de um povo
Que tanta te ama
O defensor do proletário
Um menino predestinado
Que nasceu na Lapa e acendeu a chama
Guerreiro, guardião desta planície
Junto aos amigos do Liceu de Humanidades
Na arte e na cultura, buscando novas rimas
Mudou Campos, por amor a esta cidade.

Na paixão que foi buscar, Rosinha
Ela vai perpetuar, com o seu carinho
O verdadeiro amigo das donas-de-casa Bis
De coração a coração, fala
Garotinho.


“O jovem”
O jovem triunfou
De narrador de futebol a governador
Ao lado da primeira dama
O realizador
Todo o Estado canta agora
Foi deputado estadual
Melhor prefeito do Brasil
Quem sabe faz a hora.

Ele é um rio que corre pro mar
Canta Morrinho
Que Os Psicodélicos, amor Refrão
É Garotinho”




G. R. E. S. BRUC – BLOCO RECREATIVO DE SAMBA UNIDOS DO CAPÃO
“As 1001 fases de um simples lavrador que em xeque se transformou”

Autores: Ricardo Mendonça, Luciano do Cavaco, Zé Pinto e Jorginho do Pagode.

O menino lavrador imaginou
um dia ser xeque
outras metas alcançou
mas aquele sonho de outrora
o BRUC realiza agora.

Oh meu Unidos do Capão
Veja que bela trajetória
Desse vascaíno que curte um
Choppinho
Com os amigos da velha guarda.

Força, garra e determinação
Norteiam sua vida
Com responsabilidade e confiança Bis
Conquistou a população.


O garoto operário da terra
Foi camelô, taxista, vereador,
Hoje é príncipe da Assembléia
É um vencedor!

Venham odaliscas, venham sultões,
O castelo de riquezas está em festa
Prestando homenagem na folia Refrão
A João Peixoto, esse xeque lutador.



Em 2002, os homenageados foram o vice-prefeito Geraldo Pudim, pelo Ururau da Lapa; a escola Unidos do Capão homenageou o vereador Toninho Vianna; a escola Corações Unidos homenageou o prefeito Arnaldo Vianna; e, a escola Amigos da Farra, prestou uma homenagem ao deputado estadual Paulo Albernaz.


G. R. E. S. URURAU DA LAPA
“No tabuleiro da baiana tem Pudim pra Ioiô”

Autor: Waldo Pessanha
Intérpretes: Jorginho Help, Francisco do “Chuva” e Ninil

Brilhou, brilhou, brilhou
No infinito uma estrela anunciou
Ururau vem aí, com este enredo genial Bis
Pudim, ô Pudim
A Lapa te escolher para este Carnaval


A sua história vem de glórias imortais
É berço de grandes desportistas
Americano e Goytacaz
Tem amor no coração é folião dos nossos carnavais

Pudim, Pudim, Pudim
Sua política sempre verdadeira
Nesta terra se espalhou e hasteou sua bandeira Bis
E o povo já te consagrou


Estudou no Liceu de Humanidades
Seu grande sonho é um dia ser Prefeito
Esse aluno de Direito, defensor da liberdade,
Amante dos livros de Jorge Amado Bis
Hoje nesta noite de alegria
No Ururau vem desfilar
Neste palco iluminado.


G. R. E. S. BRUC – BLOCO RECREATIVO DE SAMBA UNIDOS DO CAPÃO
“Um sonho antepassado que virou realidade – Vereador Toninho Viana”
Autores: Babal, Jefferson e Alessandra
Intérpretes: Nelbinho, Juninho e Felipe

De verde e branco
O Capão quer te ver passar Bis
Parabéns Toninho Viana
Sua história vou contar.


No Liceu de Humanidades
Onde ainda menino estudou
Seguindo os passos do seu pai
Com dignidade homem público se tornou

Campeão de votos na Baixada
Adorado por todo esse povão
Junto Arnaldo Vianna
Nossa Campos agradece
Beijo no seu coração

Torcedor do Americano
E também do famoso “mengão”
O seu “hobby” é fazer sauna
Desfilar contente no querido “Sapatão”

Roda, gira baiana
Nosso BRUC vem aí
Exaltar Toninho Viana
Nosso enredo é esse aí.

Essa semente
Essa semente criou fruto amor,
Criou sim, Senhor, ô sim Senhor Bis
Esse sonho tão sonhado do seu pai
Se realizou.



G. R. E. S. CORAÇÕES UNIDOS
“Corações Unidos – Faz a festa com Arnaldo Vianna nos braços do povo”

Autores: Wanderley Brasília, Wandreux Muniz, Demerval, Luciano do Cavaco e Rita
Intérprete: Jorginho do Pagode

Com Arnaldo Vianna eu vou
E canto com emoção (emoção)
Bate forte bateria
Levando esta canção

Na escala zodiacal
Sob o signo de Escorpião
Amigo e carinhoso
Forte como leão.

Foi estudante do Liceu
Na faculdade de Medicina se formou
Hoje olha pelos filhos seus
E por Campos que sempre amou.

Gosta do Kenneel e a pescaria é seu “hobby”
É Rio Branco e “mengão” e Carnaval
Corações Unidos de sangue novo Bis
Com Arnaldo Vianna nos braços do povo


Mas o tempo lhe compensou
Como médico o povo aplaudiu
E como político
“O Melhor Prefeito do Brasil”

Explode coração
Radiante de alegria
Sou Corações Unidos Refrão
Embalando essa folia



G. R. E. S. AMIGOS DA FARRA
“Nosso Paulo Albernaz”

Autor: Fábio Guilherme

Tem história que tem político
Tem político que faz a história
É um dom, sapiência é alegria de viver
Trilhar nos outros seu caminho sua memória

Paulo Albernaz
Hoje o passe livre é pra você
A minha escola te convida Bis
Pra essa farra
O mestre-sala
É a bandeira do saber.


No jogo da vida
Explosão de fé e amor
Goyta-Fla-Municipal
Ganha um grande torcedor
Salve os amigos
Renato, Chebabe, Virgílio e tantos
De coração hoje te homenageando
Acreditar na humanidade
É ter certeza de um dia melhor
O homem com sua capacidade
Transforma o mundo quando tem dignidade

Pra frente a vida
Eu quero é mais Bis
Igualdade social
Liberdade e paz.



Em 2003, a escola Ururau da Lapa, homenageou o empresário e vereador municipal, Manoel Alves da Costa.


G. R. E. S. URURAU DA LAPA
“Entre Mouros e Cristãos na cavalhada brinquei.
Sou filho da terra, sou da Baixada Goitacá”.

Autores: Silvia e Pé
Intérpretes: Ninil, Didi, Marquinho Sá e Fabinho do Cavaco.

Mac amigo é alegria
É vitorioso no que faz
Em sua terra aposto
Para Campos que sempre mais
Eu sou ... Sou Manoel Alves da Costa
Filho da terra e da Baixada Goitacá
Histórias de nossa terra
Os antigos me contaram
Que índios vorazes
Dominava a terra e mar
Eram donos desse chão
Antes da chegada dos 7 Capitães

As cavalhadas têm um brilho especial
Cristãos combatendo Mouros Bis
Na luta do bem contra o mal


Pai comerciante de valor
Dava notícias no local
Santo Amaro abençoou os seus ideais
Agradeço ao Índio e ao Negro
Suas crenças e memórias
Relembrar os seus costumes
É reviver nossa história

Hoje a Lapa canta em prosa
Elegante e orgulhosa – É Ururau
Folia é minha sina Bis
Carrossel de alegria – Carnaval.



Nesse ano de 2004, a homenageada foi a governadora do estado, Rosinha Matheus,

G. R. E. S. ÁS DE OURO
“Do Teatro ao Palácio Guanabara: a Rosa que faz”

Autores: Fernando Lima e Hugo Leal

Vamos exaltar
a flor mais bela, quanta sedução!
Nasceu em Itaperuna
A rosa que perfuma esta canção
Foi em Campos sua infância
Desde os tempos de criança
Despertou
justiça e igualdade
Em prol de uma cidade
se entregou

A paixão pela arte surgiu
Seu canteiro de sonhos floriu
No teatro do Sesc que encontrou Refrão
O seu verdadeiro amor


Por seus ideais
Ela dedicou a sua vida
Não se intimidou
Foi nas urnas pelo povo a preferida
Mãe, primeira-dama, veio e venceu,
governa os sonhos de quem te elegeu.
Quantos programas sociais!
Luz de um trovador
Peça de um ator, cor e paz

Eu sou Ás de Ouro
Trago esse tesouro, te esquecer, jamais
Do teatro ao Palácio Guanabara Bis
A rosa que faz

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