sábado, 8 de setembro de 2007

02.08 - O Carnaval em Campos


A festa popular e as brincadeiras pagãs que antecediam o início da Quaresma também eram praticadas na planície goitacá, mas até meados do século XIX, essa festa era comemorada na forma do “entrudo”. Como os foliões sempre usavam da violência ao iniciar as batalhas com baldes d´água e farinha de trigo e terminavam com o mau gosto das latas de urina, o presidente da Câmara Municipal, Barão de Carapebus, em 1851, decidiu tomar uma providência enérgica para acabar com o desrespeito. Baixou então um edital proibindo o “entrudo”. O edital além de proibir a prática grosseira e nociva, cominava penas de seis dias de prisão e 12$000 de multa, substituída por 50 açoites no pelourinho. O edital possuía quatro artigos longos e detalhados, mas que nunca foram respeitados. Mesmo assim, a situação melhorou, e os antigos baldes d´água com farinha foram substituídos pelos limões de cheiro, tido como um projétil mais amável e cordial.


Desse modo, 15 dias antes do carnaval iniciar, começava a fabricação dos limões que eram feitos de água perfumada, e eram vendidos em tabuleiros por escravos, ou em casas comerciais como a do Vieira Bellido que anunciou a venda dos tais limões pela última vez em 1892, no entanto, os limões ainda persistiram por mais alguns anos.
Os limões eram feitos de cera em diferentes cores e tamanhos, borracha muito fina, cheia de água perfumada. Depois surgiram as bisnagas feitas de folhas de lata, espirrando cheiros bons.
Até que em 1896, Arthur Rockert, introduz o “biógrafo” (cinema) em Campos, e lança finalmente as confetes e serpentinas, enfeitando de uma vez o carnaval campista.
Apesar disso, vale ressaltar que os primeiros desfiles de carruagem ocorreram em 1857, quando existiam em Campos 157 carruagens. Além disso, os desfiles também eram feitos a pé, à cavalo ou carrinhos.
O primeiro desfile carnavalesco foi organizado pela “Sociedade Congresso Carnavalesco”, cuja sede localizava-se na rua do Sacramento (Lacerda Sobrinho). O desfile constou de carro alegórico reproduzindo antigas “saturnais”, música e guarda de honra a cavalo, levando “bouquês” que eram oferecidas as damas.
Depois disso, surgiram outros clubes como “Clube Zenith Carnavalesco”, em 1869. Em 1870, surgiu a “Sociedade Az de Copas”, que marcou e provocou um escândalo porque os homens saíram fantasiados de mulher. Apesar do espanto, quem ganhou a Palma pela vitória foi a “Sociedade Incógnita X”.
No decorrer do tempo, surgiram outras sociedades como, “Sociedade Commercial e Artística”, em 1870; “Club Carnavalesco Bamboche”, em 1871; “Club Estréa Campista”, em 1872.
Em 18 de março de 1877, foi fundado o “Club Neptuno”, que levantou o carnaval campista e cujo desfile foi marcado pela introdução de alegorias. Esse clube encerrou suas atividades 10 anos depois, em 1887.
O “Club Indiano Goytacaz”, surgiu em 1876; no dia 22 de abril de 1877 surgia o “Club Conspiradores Progressistas” que existiu até 1879. Em 14 de março de 1883, surgia o “Club Diabólico Carnavalesco”, cuja sede localizava-se no prédio nº 18 da Rua da Constituição.
No ano de 1884, foi realizado o maior carnaval de Campos com a presença dos clubes “Indiano”, “Macarroni”, “Plutão”, “Neptuno”, “Índio Negro”, “Cacetes”, “Caras Duras”, “Tenentes do Diabo” e “Progressista”. O “Club Tenentes de Plutão, surgiu em 13 de janeiro desse mesmo ano.
De todos os clubes carnavalescos campistas o mais antigo e que até hoje abrilhanta o carnaval campista é o “Club Macarroni”, que foi fundado em 1870 e atravessou inúmeras gerações de foliões até os nossos dias. Esse clube também entrou para a história do carnaval campista quando em 1875 exibiu-se pela primeira vez com carros puxados a boi.
A rivalidade entre os Clubes Macarroni e Plutão chegou a entrar para a história do carnaval campista. Bem como o fato de que, em 1891, o Plutão teve um carro apreendido pelo delegado de polícia porque continha ofensas grosseiras ao governador Francisco Portela, o homem da luz elétrica em Campos.
Já no novo século, em 1910 um grupo de garotos fundou o clube “Os Avançadores”, que logo foram precedidos pelo clube “Os Intransigentes”.
Foi no início do século XX que surgiram os primeiros cordões (de índios), os blocos e os ranchos, além de outros grandes clubes. O primeiro cordão que marcou presença no carnaval campista foi o “Estrela de Ouro”, fundado em 1917. Logo depois surgiria a “Lira Brasileira”, que viria a ser o seu ferrenho rival.
Ainda na mesma época surgiram outros cordões como os “Filhos do Sol”, o “Neto do Vulcano”, “Pena de Ouro”, o “Guerreiro Brasileiro”, etc.
Depois disso, Campos viveu a época dos ranchos e dos blocos. Para as mulheres que desejavam curtir o carnaval só lhes restava os ranchos, pois nos blocos elas não entravam. Entre os blocos mais famosos que existiram em Campos, podemos destacar o “Corbeille”, o “Recreio das Flores”, o “Prazer das Morenas”, o “Felisminda Minha Nega”, o “Flor de Abacate” e “As Magnolias”, cujo ritmo iria enxotar de uma vez o compasso binário dos blocos e ranchos. E por último o mais famoso de todos os blocos campistas, o “Pega Veado”.
Para Hervê Salgado Rodrigues, autor do livro “Campos – Na Taba dos Goytacazes”, a fase áurea do carnaval campista ocorreu entre os anos de 1920 e 1950.
Com tudo isso ainda surgiram outros blocos esportivos como o “Mana na Burra”, do Goytacaz”; o “Mosqueteiros da Baixada”, do Americano; o “Pé no Fundo”, do Rio Branco e o “Pendura a Saia”, de estudantes campistas.

Não se sabe em que ano, mas a verdade é que o livro “Campos – Na Taba dos Goytacazes” de Hervê Salgado Rodrigues informa que nas tardes de carnaval, os mascarados começavam o desfile por volta das 14 horas. Eram figuras humorísticas, belos dominós com guizos e arminho nos punhos e nas golas ursos e bois pintadinhos. Depois quase à tardinha, vinha os corsos. A população então vinha pra o centro para assistir ao desfile e participar dos desfiles e das guerras com os populares limões de cheiro.
Vale ressaltar que na história do carnaval campista houve diversos grupos carnavalescos, que por medida de espaço iremos citar apenas os seus tipos e os grupos a que pertenciam.

Clubes
Sociedade Congresso Carnavalesco (1869), Clube Zenith Carnavalesco (1869), Sociedade Incógnita X (1869), Sociedade Az de Copas (1870), Clube Macarroni (1870), Sociedade Commercial e Artística (1870), Club Carnavalesco Bamboche (1871), Club Estréa Campista (1872), Club Indiano Goytacaz (6/agosto/1876), Club Conspiradores Progressitas (1877), Club Netuno (março/1877), Os Democráticos (1882), Club da Concha (1882), Caboclos Negros (1882), Clube Tenentes de Plutão (13/janeiro/1884), Índio Negro (1884), Cacetes (1884), Caras Duras (1884), Tenentes do Diabo (1884), Progressistas (1884), Os Avançadores (1910) e Os Intransigentes (1910).

Cordão
Estrela de Ouro (1917), Lira Brasileira (1917), Benta Pereira, Caçadores das Montanhas, Desenrola Mamãe, Filhos da Sereia, Filhos do Sol, Guerreiro Brasileiro, Herói Brasileiro, Neto de Vulcano, Pena de Ouro, Pena Dourada, Selvagens do Brasil, Sol Brilhante, Temor do Norte, Terror da Zona e Triunfo das Cores.

Ranchos
Apaixonados da Coroa, As Andorinhas, As Magnólias (Bacu), Chuveiro de Prata, Corbeille das Flores, Felisminda Minha Nega, Flor de Abacate (Guarus), Paz e Amor, Perfume das Flores, Prazer das Morenas, Recreio das Flores, Recreio das Flores, Sereia do Norte e União Gonçalense.

Blocos de Embalo ou Blocos Avulsos
Acadêmico de Direito e Comércio, Acadêmicos da Barra Limpa, Alambique de Barro, Apaixonados das Morenas, Apaixonados do Norte, Barra Limpa, Bumba-meu-Boi, Caprichosos de Guarus, Chuva de Ouro, Coração das Morenas, Corações Unidos, Deixa que eu Chuto, Família Conchambrança, Flor de Maio, Geme que Tem, Gemer Não Faz Mal, Império da Folia, Jardim Carioca, Jaú do Norte, Juventude da Baleeira, Lourinha da Lapa, Macumba na Cidade, Mama na Burra, Mastiga Mas Não Engole, Mosqueteiros da Baixada, Nós Viemos da Macumba, Nova Brasília, O Lampião, Os Anjinhos, Os Corujas, Os Fiteiros, Os Psicodélicos, Os Vagalumes, Pagode Redondo, Pé no Fundo, Pega Veado, Pendura a Saia, Pingo de Ouro, Prazer das Morenas, Primeiro Nós, Quem Não Viu Vem Ver, Quem Sabe Não Diz, Rouxinol da Lapa, Santa Cruz, Só Entra Quem Pode, Teimoso do IPS, Tradição da Lapa, União Feliz, Unidos de Cambaíba, Unidos do Capão, Unidos do Eldorado, Unidos do Fundão, Vai Quebrar, Vai-Vai e Você me Acaba.

Blocos de Salão
Os Caveiras.

Boi Pintadinho


Boi Brasil, Boi Capeta, Boi Chicão, Boi Chifrudo, Boi Deita e Rola, Boi Falangem, Boi Fumaça, Boi Jaguar, Boi K-Vaca (depois Boi Barrão), Boi Montanha, Boi Pimenta, Boi Travolta e Boi Trovão.

Blocos de Samba
Baba de Gato, Cacique da Pecuária, Cacique de São Caetano, Canarinhos de Guarus, Dengoso de Nova Brasília, Em Cima da Hora, Os Psicodélicos, Os Queridinhos, Só Come Dois, Unidos da Celf, Unidos de São José, Unidos do Parque Lebret e Unidos Para Sempre (antigo Conchambrança).

Batucada


Bando da Lua, Coroa em Samba, Cruzeiro do Sul, Da Famosa Esmeralda.Embaixada do Catete, Embaixada do Salgueiro, Estácio de Sá, O Cruzeiro, Progresso do Queimado, Sol Raiando, Sorriso do Norte, União do Sapê, Unidos da Tijuca (depois mudou para Unidos da Coroa) e Unidos de Santana.

Escolas de Samba


Amigos da Farra, Ás de Ouro, Companheiros Unidos de Guarus, Cruzeiro e Unidos da Coroa, Escola de Samba Madureira, Império do Samba, Mocidade Louca, Onça no Samba,
Os Independentes, Progresso do Norte, Sorriso do Norte, União da Esperança, Unidos da Coroa, Unidos de Cambaíba, Unidos de Ururaí e Ururau da Lapa.

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